quarta-feira, 29 de maio de 2019

Utopia ou retropia?



Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, autor de vasta obra, já que escreveu mais de 70 livros,
30 dos quais publicados no Brasil, é um pensador muito citado por sua originalidade.
Foi ele quem escreveu “Modernidade Líquida”, “Amor Líquido”, “A Riqueza de Poucos
 Beneficia Todos Nós?”, “Babel – Entre a Incerteza e a Esperança”, “Estranhos em nossa
Porta” e muitos outros.
No próximo ano publicará “Retrotopia”, um ensaio sobre a necessidade de se voltar ao
passado e não pensar em edificar algo diferente no futuro. Sem ler o livro, que ainda não
 foi publicado, concordo que ele tem certa razão. Já fomos muito melhores do que somos.
Em termos de civilidade, então, retrocedemos aceleradamente.
Quando vejo a sujeira das cidades, as pichações, os maltratos a tudo o que é público – e,
portanto, é de todos – chego a pensar como alguns pessimistas que a humanidade é
um projeto questionável. Todos temos o direito de sonhar com uma sociedade mais
acolhedora e uma vida decente e significativa. Só que isso não está no futuro, pelo
andar da carruagem. Ou pelo ritmo das redes sociais. Está no passado.
A utopia é um lugar inexistente e que se mostra impossível de ser atingido no futuro.
Já a retrotopia é o retorno ao passado, a um modo de vida “que foi exageradamente,
irrefletidamente e imprudentemente abandonado”.
Quem examina a degradação dos hábitos nas últimas décadas, seja na vida pública,
seja no âmbito da família, no seio da Igreja ou no estranhamento do convívio social,
só pode pensar que o futuro não se sustenta como promessa rósea. Em lugar do
prometido ócio, que atingiríamos com o avanço das tecnologias da informação e
da comunicação, estamos trabalhando cada vez mais. Em vez da sociedade fraterna,
há uma luta de todos contra todos. Onde o respeito? O brio? A honra? A polidez e a ternura?
Lutas fratricidas, ressentimentos e ódio, violência e criminalidade, tudo depõe contra o
 presente e anuvia o futuro. Só o passado é credor da admiração, pois já passamos
por ele e temos saudades daquilo que ele nos proporcionou. O perigo é lembrar
que no Brasil nem o passado é garantido. Pode ser alterado ao sabor das forças
momentâneas, como ocorria no “1984” do Big Brother…
Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 15/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. 



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